V ENCONTRO DE PESQUISA DA REGIÃO SUDESTE – ANPED

Considerações sobre a tese da neutralidade da ciência nos Parâmetros Curriculares Nacionais

Outubro de 2002

Paulo Roberto dos Santos

Mestrando orientado pelo Prof. Marcos Barbosa de Oliveira

Faculdade de Educação da USP

RESUMO

A proposta de reforma curricular apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), na parte relativa às Ciências Naturais, deixa claro que é preciso superar a postura “cientificista” que sempre entendeu o ensino de Ciências como sinônimo de descrição de seus conteúdos conceituais, à margem de uma reflexão sobre o significado ético-social das conquistas humanas no interior da Ciência. E o documento enfatiza concretamente o caráter não neutro dos conhecimentos científicos e tecnológicos.

Meu objetivo neste trabalho é tentar avançar na questão da neutralidade da ciência. O ponto de partida é este: afirmar que a ciência é uma atividade humana de caráter histórico e, por isso, não neutra, abre as portas para interpretações relativistas da tese da neutralidade que, a meu ver, devem ser evitadas.

Uma maneira de interpretar a neutralidade da ciência sem cair no relativismo vem sendo desenvolvida pelo Prof. Hugh Lacey e consiste em analisar a atividade científica em termos de valores. Trata-se de caracterizar a racionalidade da ciência em termos de compromisso com um conjunto de valores cognitivos tais como a adequação empírica da teoria, a exatidão nas previsões, a abrangência explicativa, a simplicidade, etc. É fundamental nesta abordagem a distinção entre valores cognitivos e valores sociais ou morais. A alegação de que a ciência é neutra deve ser interpretada como sendo ela livre de valores sociais ou morais, não de valores cognitivos. A essa norma Lacey dá o nome de imparcialidade. No entanto, a neutralidade tem outras dimensões, nas quais a ciência não é neutra, a dimensão das aplicações e escolhas de estratégias. Se quisermos evitar o relativismo, a tese da imparcialidade deve ser preservada como um ideal factível, como um valor da atividade científica.